sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Diário de viagem – Bolívia, Chile, Peru

No caminho para o Morro do Piquenique pegamos o ônibus que circula dentro do Parque Mangabeiras com seus bancos apertados e sem espaço para as pernas de pessoas um pouco mais altas do que um metro e meio. A sorte é que o trajeto era curto, então nos esprememos como pudemos e seguimos para o banquete.

Daí lembrei-me dos ônibus que eu e seu pai pegamos quando, no finalzinho de 2006, fomos ao Peru.

Naquelas férias vivemos experiências incríveis passeando, por conta própria, pela Bolívia, Chile e Peru. A diferença é que alguns dos trajetos que fizemos dentro dos ônibus projetados para anões foram longos, especialmente o caminho de La Paz para Uyuni e o de Arequipa para Cabana Conde via Chivay.

A seguir, o relato de nossa viagem:

Cusco (29)

Nosso diário começa a ser escrito já no meio do Deserto da Bolívia a sudeste de La Paz.

Hotel de Sal (1)Essa é a segunda noite nesse lugar surpreendente. Ahhhhh!!!!!

Nem nossos pensamentos mais otimistas esperavam tanto....

É tudo surreal, lunar, terrestre, fantástico, impressionante, assustador e, sobretudo, MARAVILHOSO.

Só não perdemos o fôlego porque não podemos nos dar ao luxo já que o ar por aqui é rarefeito, em alguns lugares estamos a quase 5.000 metros de altitude.

Laguna Colorada (6) La Paz

Tudo começou às 6 horas de sábado, dia 16 de dezembro de 2006. Vinte e seis horas mais tarde chegamos à La Paz. Si, nosotros deberiamos llegar a La Paz (3650 metros arriba del mar) às 18:30 de sábado, mas passamos uma agradável noite na sala de espera do aeroporto de Santa Cruz de La Sierra.

Eu, Annabel, me estiquei em três poltronas e dormi profundamente enquanto as pessoas procuravam, sem sucesso, entender o que estava acontecendo.

Por fim, a Loyd Aérea Boliviana distribuiu um “jantar” -sanduíche frio de presunto e queijo acompanhado de um copo de refri - para acalmar o ânimo dos passageiros famintos e cansados.

Não bastasse todo o atraso, o avião saiu lotado às 4 horas da matina e não pôde aterrizar em La Paz, por falta de teto. Assim, voamos à Cochabamba onde ficamos dentro do avião por mais de uma hora esperando por melhores condições climáticas.

Nossos assentos eram separados e, ao lado do Osmar, tinha um casal com um bebê de colo. Nem preciso dizer que com tanta demora o neném encheu as fraldas e o casal (com o apoio do Osmar hi hi hi hi hi) o trocaram ali mesmo... O avião decolou as cinco chegando à La Paz por volta de 6hs de domingo.

La Paz (4)

La Paz!!!! Sentimo-nos como se estivéssemos no Oriente Médio. A cidade é pobre, diferente, caótica, indígena, suja e desconcertante.

Chegamos ao Hostal Torino tontos, sem ar, com dor de cabeça e fracos como se estivéssemos bêbados. Subir as escadas com bagagem exigiu muito planejamento, força de vontade e algumas paradas para respirar.

Só vindo ä Bolívia para entender que o país é maravilhoso, paisagens de tirar o fôlego e turismo muito, muito, barato. Além disso, somente vindo à Bolívia para cada vez mais discordar daqueles que esperavam que o nosso governo agisse no caso Bolívia x Petrobrás como se estivéssemos lidando com a Argentina, Chile, Europa, USA ou Minas x SP. Seria no mínimo insensibilidade. O Brasil tem suas mazelas e desigualdades, mas o povo Boliviano, em sua maioria, é miserável.

La Paz (27) A altitude pega mesmo. Não é possível caminhar pelas ruas e conversar ao mesmo tempo. A cidade fica em um pequeno vale circundado por altíssimas montanhas da Cordilheira dos Andes. Os bairros sobem pelas encostas. As casas não têm acabamento e nem telhados coloniais, o que nos remete às favelas do sudeste do Brasil. Caminhamos por um desses bairros. O lugar é seguro, mas as suas ruas são estreitas e o estilo de construção é semelhante ao das favelas brasileiras.

Dormimos um pouco e saímos para almoçar. Foi muito difícil achar um restaurante confiável. Na realidade demoramos um pouco para entender o ritmo e o astral dessa cidade que nos pareceu, em um primeiro olhar, muito exótica e desconcertante. Sua pobreza, seu barulho, seu cheiro e transito caótico desnortearam-nos. A única coisa confiável foi comer pollo (frango) com champignon no restaurante de uns israelenses.

Voltamos ao hostel em silêncio já que não era possível andar e conversar sem perder o fôlego... Mais tarde descobrimos que no nosso silêncio, ambos se perguntavam: “O que é que estamos fazendo aqui????”

A diferença de fuso é de duas horas. Após uma nova dormidinha, saímos para mais uma caminhada. Conhecemos o museu de arte contemporânea que fica numa casa muito bela e antiga na avenida dos estudantes. Jantamos, compramos empanadas para a longa viagem rumo ao sudeste da Bolívia onde está o nosso destino, o “Salar de Uyuni”.

A primeira vez que ouvimos falar sobre esse lugar foi na Chapada Diamantina que, aliás, nos instigou a ir à Patagônia também. O dia seguinte foi off. Tomamos café e ficamos dando umas voltas pela cidade. Conhecemos três brasileiros muito simpáticos. Almoçamos com o Tiago e Zuzu, de Juiz de Fora. Eles vieram pelo trem da morte e estavam cheios de estórias e arrependimento. Ao que parece não vale a pena enfrentar essa aventura.

Ficamos apenas dois dias aclimatando em La Paz e seguimos mais de 11 horas em um dos piores ônibus e uma das piores estradas que já rodamos na vida rumo ao Salar de Uyuni.

A rodoviária de Oruro é caótica, repleta de pedintes de todos os tipos e idades. As pessoas trombam em você o tempo todo e não parecem se incomodar com isso. Não encontramos nada aceitável para comer e o pior é que o tempero das empanadas de La Paz era muito estranho, meio doce mas com azeitona e carne, vai entender...

Arequipa Tentamos dormir um pouco no ônibus completamente lotado, o que parece ser regra por aqui. As pessoas vão sentadas ou deitadas no chão, ou em pé caindo e sentando em cima de você ou quase saindo pela janela.

Não preciso nem falar do abafamento do ônibus por que estava muito frio lá fora. O cheiro das pessoas naquele abafamento é bem diferente de todos os cheiros que já sentimos. Não é ruim como o cheiro azedo e acebolado dos franceses e é bem diferente do cheiro de sabonete barato que os pedreiros do Brasil espalham nos ônibus no finalzinho da tarde... O cheiro dos ônibus da Bolívia é um cheiro de corpo, cheiro de quem não usa sabonete algum. Tem uma morrinha, uma catinga, um bodum bem peculiar.

Os cheiros sempre fazem parte de nossas impressões quando viajamos. Por exemplo, foi por causa não só da aparência, mas também por causa do cheiro, que tivemos tanta dificuldade em encontrar uma comida confiável em La Paz. Os alimentos por aqui são bem exóticos e diferentes dos nossos. Habitualmente come-se carnes de animais estranhos, alimentos bem calóricos e gordurosos como o Chincharão, o porquinho da índia (cue), que parece frango a passarinho, carne de lhama, alpaca, batatas, frango assado com pele - que é mania nacional, milho, pimenta. Índias imundas vendem alimentos nas ruas, desde pasteis, sorvetes até mesmo sopas e pratos de almoço. Fica tudo exposto dentro de cestos de palha, sem proteção nenhuma... arg....

Salar de Uyuni

Após essa noite encolhida no ônibus lotado, trafegando por uma estrada (?) caótica finalmente, às 5hs, chegamos ao lugarejo de Uyuni, uma vila perdida no meio do nada, que se resume a uma pracinha simples e uma pequena igreja. A vila é pobre e estava sem água?!

O passeio ao Salar consiste em três dias dentro de um jipe 4 x 4. Logo formamos nosso grupo: 2 belgas (sempre belgas na nossa estória), 1 australiano doido, uma boliviana, 1 francês, e o Natálio, nosso guia, cozinheiro e excelente motorista.

Hotel de Sal

O francês é muito engraçado e toca um violão de tirar o fôlego. Durante todo o trajeto estamos ouvindo música Boliviana no jipe.

Não há palavras para descrever tamanha beleza. Há momentos em que não há qualquer sinal de vida. A aridez, secura e uma vastidão que chega a assustar.

Daí, de repente, surgem vicunhas ou alpacas pastando, raposas, viscaza, que são lebres do deserto, plantações de quínua (um cereal muito nutritivo e saudável comido como arroz ou na sopa que agora é moda no Brasil), lagoas de cores que variam do azul e verde ao vermelho. Ilha do Pescado (5) O cenário não é de forma alguma monótono, pelo contrário, muda e pulsa constantemente.

O habitat do Salar é muito diferente. Parece que estamos no céu. Não dá para identificar a linha do horizonte. É tudo muito branco e na parte alagada o efeito é ainda mais impressionante porque as nuvens e o azul do céu se misturam e refletem no chão dando a impressão de que estamos pisando em nuvens.

Ilha do Pescado (8)Não dá para entender, quem dirá para explicar. Na verdade não é um lugar para se entender ou se explicar. É um lugar para se sentir. São quilômetros de um enorme planalto, completamente branco, desértico, onde nunca chove, sem estradas, sem qualquer sinalização, que assusta por sua vastidão, seu aspecto lunar e surreal. A água que cobre o chão vem das chuvas e do degelo de neve das altas montanhas ao redor. De dentro do salar não se avista nada. Nem montanhas, nem estradas, nada! Somente o infinito.

Existem várias teorias que tentam explicar esse salar. Umas das que achei mais plausível foi a de que o choque de placas tectônicas, ao formar a Cordilheira dos Andes, acabou por separar um pedaço de oceano que, com o tempo, evaporou deixando quilômetros e quilômetros de sal.

Somente pessoas que conhecem bem o lugar podem dirigir por aqui. Não existe estrada e as montanhas que servem de referência somem quando você vai avançando para dentro do salar. Pode-se dirigir por mais de 100 km em linha reta sem nada ao redor. Uma loucura. O sal daqui é explorado comercialmente, mas em pequena escala.

Hotel de Sal (6)A maior atividade econômica é, sem sombra de dúvida, o turismo. Existe um hotel construído de sal onde as camas, cadeiras, mesas e paredes, tudo é de sal.

Passamos a noite em uma vila mui chica, com a vida completamente parada no tempo. Um lugar onde a natureza revela toda a sua rispidez (muito frio, calor, vento, falta de água), mas também sua beleza. A casa era simples, mas muito acolhedora, limpa e confortável.

Hotel de Sal (8)O francês, com sua simpatia e seu violão, acabou atraindo a atenção do outro grupo: uma londrina, dois irmãos neozelandeses, duas americanas e um casal de holandeses. Cantamos, bebemos, conversamos e fizemos o que mais gostamos em nossas viagens: conhecer pessoas e ver como elas encaram a vida, como vivem, que valores possuem.

Dessa forma, sentimos que estamos ampliando nossos – limitados - horizontes. O francês, por exemplo, trabalha fabricando violinos, é luthier – vou gastar a palavra que acabei de aprender -e é apaixonado pela América do Sul.

Deserto da Bolívia

Laguna Hedionda (10) No segundo dia (20/12/06) deixamos o salar e o cenário mudou completamente. Montanhas, vulcões ativos, dunas, aridez, vastidão e lagoas coloridas com flamingos. Tudo é tão forte, tão belo, tão impressionante, que parece que estamos aqui há uma semana.

 Laguna verde (4) Cada lagoa tem uma cor e uma estória. A Laguna Honda é uma das mais bonitas e é habitada por inúmeros flamingos com sua plumagem rosa claro. Fiquei por horas fotografando-os. A Laguna Hedionda tem esse nome porque apesar de extremamente bela e convidativa, dizem que suas águas são movediças, fazendo com que o peso do corpo te puxe para o fundo. Almoçamos nesse belo visual e seguimos rumo ao arbol de piedra e depois para a Laguna Colorada, que é uma das mais exóticas de todas e contém tons de vermelho, azul, amarelo, branco e verde.

Laguna Colorada (2)

Estamos agora acima de 4500m de altitude. Nessa segunda noite o alojamento não tem quarto de casal. Ficamos todos do grupo em um mesmo quarto. Jantamos espaguete que o Natálio preparou. Novamente o francês tocou violão, dançou e cantou. O outro grupo que se agregou ao nosso, pediu para ficar no mesmo alojamento. Uma Boliviana local se juntou a nós e também tocou enquanto o francês dançava com sua namorada. Fomos dormir exaustos, por volta de 22hs.

Estava muito frio, por volta de -5º C. A lua iluminava o deserto. O Osmar viveu momentos difíceis durante a noite. Eu só vim a saber no dia seguinte. Ele acordou com falta de ar, suando frio, sentindo enjôo e calor, sendo que estava estupidamente frio. Começou a ter sensação de morte e de pânico. Planejou levantar da cama, mas não conseguiu. Olhou pela janela e viu a extensão estéril do deserto. Ficou tenso, sentindo que precisava de ajuda e que, naquele lugar inóspito, não haveria socorro. Perguntou-se novamente: “O que estamos fazendo aqui? Ficou a imaginar qual seria o hospital mais próximo. Será que um helicóptero chegaria até lá? Quanto mais pensava mais passava mal. Mas, aos poucos, voltou a sentir frio. Voltou a respirar normalmente, deitando-se novamente e sentindo que o enjôo estava passando. Ele não me chamou. Ficou ali umas três horas acordado, esperando o guia nos chamar às 4 da matina para vermos os gêiseres em atividade à 4.900 metros acima do nível do mar.

Depois descobrimos que o que o Osmar sentiu, foram sintomas clássicos de soroche. Algumas pessoas mais do que outras são mais sensíveis à falta de oxigênio no organismo. Tanto que montanhistas de altas montanhas reservam em suas expedições um tempo para ir gradualmente se aclimatando de forma a não sofrerem o “mal da montanha” da forma como aconteceu com o Osmar.

Gêiseres (3) Gêiseres são vulcões ativos com fumarolas que saem do chão, fruto da lava que está a 90 graus de temperatura. Alguns borbulham uma espécie de lama viscosa e muito quente, outros expelem água ou gases com cheiro de enxofre. O melhor horário para observá-los é logo antes do sol nascer, quando a temperatura é mais fria e o choque térmico faz com que o magma, a água e os gases sejam lançados à superfície com maior intensidade.Gêiseres El Tatio (2)

De lá fomos às águas termais e depois à Laguna verde com seu belo vulcão ao fundo. Nesse ponto, já estávamos próximos à fronteira com o Chile, e do nosso próximo destino: San Pedro de Atacama.

San Piedro de Atacama

San Pedro de Atacama (20) Cruzamos a fronteira da Bolívia com o Chile e paramos em San Pedro de Atacama, um pueblito muy charmoso e romântico. Estamos felizes, secos e empoeirados, igual a uma palha de milho, em pleno deserto de Atacama.

Foi um alento chegar à civilização. Estamos na pousada de uma eslovênia. Aqui no Chile, diferentemente da Bolívia, é tudo muito turístico. A cidadezinha cravada no meio do nada tem inúmeras opções de bons restaurantes, pubs, roticerias, botellerias, cafés charmosos, pousadas e feirinhas. Ficamos o resto do dia relaxando e curtindo a cidade e a pousada.

Vale de La Luna - Atacama (38)

Hoje, 22 de dezembro, iremos curtir o Vale de La Luna e, de lá, o Vale de La Marte (ou de La Muerte para alguns) onde contemplaremos o por do sol.

Amanhã, o programa será acordar às 3 da manhã para pegar uma van e conhecer os gêiseres Del Tatio. Daqui seguiremos para Arica, extremo norte do Chile, de onde cruzaremos a fronteira para o Peru, rumo a Arequipa cidade onde fica o Cânion Del Colca. E de lá para Cusco.

Vale de La Luna - Atacama (9)

Foram mais 10 horas de ônibus até Arica, mas dessa vez, em  um bom busão. Em Arica caímos em um golpe no guichê da rodoviária e pagamos caro para cruzar a fronteira até Tacna, onde pegamos mais um ônibus para, após 7hs de viagem, finalmente, chegar à Arequipa.

Vale de La Luna - Atacama (41) Não sabemos se preferimos Torres Del Paine ou Uyuni. Não dá para entender porque o Deserto do Atacama é mais famoso que o deserto da Bolívia. Até os chilenos reconhecem que do outro lado dos vulcões que fazem a fronteira dos dois países a natureza é muito mais impressionante e completa.

Visual do Atacama (14) Mas os gêiseres Del Tatio nos impressionaram mais do que os da Bolívia. Suas fumarolas são mais abundantes e eles exalavam não apenas lama borbulhante, mas também água. A temperatura era -8ºC e o local fica a mais de 4500m de altitude. Lá tomamos nosso café da manhã. Beber algo quente naquele frio todo foi muito confortante. Quando o sol surgiu o frio foi aos poucos se dissipando, assim como a atividade dos gêiseres.

Conhecemos um catarinense, Douglas, que pela primeira vez saiu do Brasil para, sozinho, conhecer um pouco nossos países vizinhos em sua moto.

PueblitoParamos em um pequeno pueblito onde provamos -e aprovamos- o churrasco de lhama.

Chegando a San Piedro ficamos em nosso quarto na pousada da simpática eslovênia e, após o almoço, fomos para uma rede em meio a uma sombra deliciosa do jardim. Pena que estava tendo uma festa de criança na casa ao lado...

San Pedro de Atacama (2)

Nosso ônibus partiu às 8hs da noite com o sol ainda alto. Iríamos de San Piedro para Arica, Tacna e, finalmente, para nosso próximo destino: Arequipa.

 No trajeto, além de cairmos em um golpe, passamos um aperto enorme na fronteira do Chile e do Peru com medo de que no carro ou nas nossas bolsas terem sido colocado drogas ou coisa que o valha. Receios infundados apesar de alguma confusão e discussão do motorista com as autoridades da fronteira.

Cânion Del Colca

Após um longo trajeto de ônibus, no dia 24.12, chegamos a Arequipa, a ‘ciudad blanca’ do sul do Peru. A praça central é muito bela, rodeada por vulcões. O seu povo é incrivelmente receptivo. Viemos até aqui com o intuito de conhecer o Cânion Del Colca, o mais profundo do mundo - 3.400 mil metros de profundidade.

Arequipa (13) Ceiamos em um restaurante de comida Pré-Inca em uma varanda com vista da praça central. Ligamos para D. Lourdes que estava celebrando a noite de Natal. O dia 25.12 foi off. Trocamos de Hotel e ficamos perambulando pela cidade.

Impressionou-nos a gentileza e amabilidade dos peruanos. Desde o taxista, ao cozinheiro e filósofo  (!) do restaurante, ao dono a agência de turismo, balconistas do supermercado, todos muito simpáticos e receptivos.

Cabana Conde (6) No dia 26 de dezembro saímos do Hotel cedo. Tomamos café da manhã no ônibus. O busão foi subindo até atingir 4.200m de altitude. Passamos por Chivai, onde trocamos de ônibus. Para se chegar a Cabana Conde, ponto de partida para a caminhada de três dias pelo Cânion, passamos por diversos pueblos esmagados em um pequeno ônibus.

Em cada vilarejo o traje típico e o chapéu das mulheres é diferente.

Como não poderia deixar de ser, o ônibus foi enchendo, enchendo, e ficou o tempo Canion Del Colca (78)todo lotado, em um entra e sai de nativos interminávél. Mulheres com crianças nas costas, idosos, homens, jovens, meninos, todos com traços indígenas marcantes usando sandálias pretas com tiras de couro nos pés imundos e maltratados do trabalho duro, provavelmente na lavoura. Peruanos e Cabanacondians não se importam de abarrotar de uma maneira inexplicável qualquer espaço vazio dentro ou fora dos pequenos ônibus.

Digo fora porque até o teto do ônibus vai lotado de pessoas, galinhas, crianças e qualquer outra coisa ou animal que tiver que ser transportado, especialmente no trecho entre Cabana Conde e Cruz del Condor. Eles precisam se deslocar diariamente e os assentos não são marcados. Assim, quem chega primeiro ocupa o lugar.

O povo aqui parece ser muito trabalhador, mas é muito triste ver o grande número de crianças trabalhando. Pareceu-nos não haver qualquer regulamentação ou lei que proíba o trabalho infantil. Isso foi uma das coisas mais tristes de toda a viagem. Ver a condição dessas crianças que desde muito novas trabalham pesado, seja vendendo suvenir, seja na lavoura ou pastorando lhamas, ou mesmo mendigando. Parece que as famílias muito pobres não têm opção. Não colocam as crianças na escola por falta de condições, o que é lamentável.

Almoçamos ‘lomo saltado com papas fritas’ e sopa que, tanto no Chile, quanto no Peru e Bolívia sempre são servidas como entrada do almuerzo ou da cena. De sobremesa, oba, mate de coca. Aliás, mastiguei as folhas de coca em toda a viagem e talvez por isso não tenha sofrido o mal da montanha como o Osmar que não se adaptou com o gosto das folhas.

Canion Del Colca (7) Terminado o almoço seguimos para o início da trilha de três dias dentro do Cânion Del Colca. Ao nosso redor picos nevados da Cordilheira dos Antes e à nossa frente o cânion profundo. Caminhamos até o alto do paredão onde tivemos uma vista impressionante do cânion, cortado por inúmeras trilhas em zig zag.

Canion Del Colca (46) Seus pequenos povoados pareciam pontinhos distantes na vastidão da vista. Mal dava para acreditar ser possível caminhar nas íngremes e inúmeras trilhas que cortam as gigantescas montanhas. Nosso grupo era formado pelo guia, o Ed, e por dois americanos um deles, Kristoff, de Charleston (South Caroline), 28 anos, viajando por dois meses pelo Peru e Bolívia e o Holmer de Portland (Oregon), com 19 anos, que é um estudante de medicina que ficará no Peru por três meses fazendo trabalho voluntário com crianças carentes.

Descemos por mais de 3hs a trilha para alcançar o rio Del Colca que corta o vale. Daí subimos até o local onde passariamos a primeira noite. O lugar nos surpreendeu. Canion Del Colca (32)Era muito aconchegante e limpinho. Quartos com largas e confortáveis camas, sem luz elétrica, é claro. Não precisamos usar o saco de dormir que, na verdade, só veio fazer peso nas costas. Ficamos conversando enquanto o guia preparava o jantar. O Kristoffer adorou o meu nome. Contou que Edgar Allan Poe viveu em Charleston e conversamos sobre sua vida, seus contos e poemas. O Kristoffer recitou de cor Annabel Lee,  poema que inspirou meu nome. Contou-nos que fez um ritual no cemitério de Charleston para evocar o espírito de Annabel Lee. Apesar de ter 28 anos, parece ser um adolescente de 16, cheio de caprichos, hiper-ativo e falante. Não é capaz de ficar quieto nem por um instante. Canion Del Colca (42)

Às 7hs da matina Ed bateu na nossa porta para tomarmos um delicioso café da manhã com panquecas, huevos revueltos, e seguirmos a caminhada.

Canion Del Colca (54)

Subimos, subimos e subimos. De tempos em tempos o Ed parava para dar explicações sobre a fauna e flora local. Caminhamos por 4 horas passando por pequeños povoados até avistarmos o Oásis, que é o nome dado ao local que passaríamos a segunda noite.

E lugar faz jus ao nome. No meio de um cenário quase árido, surge um espaço plano, próximo ao rio, com cachoeiras altíssimas descendo pelas encostas da cordilheira, repleto de coqueiros e palmeiras, flores e piscinas azuis e ou verdes, com a água não muito fria. O local tem vários bangalôs de palha construídos para acomodar os sortudos turistas que tem o privilégio de fazer esse trekking e apreciar os paredões que ladeiam o revuelto rio Del Colca.

Oasis (6) Essa cabana de palha foi o lugar mais rústico em que já passamos uma noite. Mesmo assim, apesar do chão ser de terra e a cama de bambu, o colchão era muito bom e os lençóis limpos e cheirosos. Um capricho. Um gato pulou em nossa cama no meio da madrugada e, até entendermos onde estávamos e que aquele ser folgado era um gato, ficamos com o coração na boca.

Canion Del Colca (27)No dia seguinte acordamos as quatro da manhã para subir, por mais de 3 horas, o caninho de volta à Cabana Conde. Caminhamos no escuro com lanternas o que foi uma pena já que a paisagem pareceu-me ser muito bela, aliás, como todo o percurso até aqui.

Cusco

Cusco (37) Do sul do Peru fomos para Cusco e, em seguida para Águas Calientes onde passamos a noite do reveillon para, no dia primeiro dia de janeiro conhecermos Macchu Picchu.

Apesar de Macchu Picchu ser um dos lugares mais tocantes que já fui, acabei não fazendo o diário de bordo.

Lembro-me de que, no dia que chegamos em Águas Calientes, último ponto antes de Macchu Picchu, o céu chorava uma chuva fina incessante e que no primeiro dia do ano de 2007, acordamos às cinco horas da manhã e pegamos o primeiro ônibus que nos levaria àquele santuário sagrado.

Chegamos lá antes do sol e, naquela atmosfera, senti algo inusitado, único e forte.

Não sei descrever e nem sentir de novo tudo aquilo. Não havia turistas. Não havia nada. Somente um silêncio que me falou muito e uma beleza que não cabia e que não coube mesmo.

La Paz

Procurei abrir meu coração para voltar a essa instigante cidade. Queria poder captar um pouco mais o astral e a atmosfera desse lugar tão diferente de tudo que já conheci.

Da primeira vez não consegui ‘digerir’ tanta bagunça, barulho e pobreza. O tráfego caótico, as ruas estreitas disputadas por taxistas e microônibus que não se sabe como ainda rodam de tão velhos. Na porta dos microônibus e vans meninos gritando o itinerário. Não sei em que língua gritam, mas gritam fino e alto repetidas vezes. Não consegui entender uma palavra sequer. Ninguém pára nos cruzamentos. Todos buzinam a cada metro. Buzinam quando os – poucos - sinais fecham, quando abrem, quando fazem curva, quando andam em linha reta, buzinam chamando clientes, cumprimentando amigos, buzinam, buzinam, buzinam....

La Paz (1) Viajar de ônibus pela Bolívia e pelo Peru foi no mínimo uma experiência inusitada.

Os ônibus são tão velhos e caquéticos que parecem que não chegarão jamais ao seu destino. Não bastasse, transportam um sem número de passageiros.

Pareceu-nos que toda a população estava sempre indo ou vindo de algum lugar. E nós, deliciosamente perdidos naquela confusão.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

9 meses - Seu primeiro piquenique

Piquenique (6)No dia seguinte que você completou nove meses, para celebrarmos o aniversário da sua Dinda, da Tia Heidi e do VV Bill fomos ao parque das Mangabeiras, um lugar muito especial que fica a dois quarteirões da casa da sua Tia Heidi.Piquenique (14)

Esse parque já foi cenário de muitas aventuras enquanto eu era estudante e, depois, quando me tornei escoteira.

Piquenique (8)

Tenho um sentimento muito bom com relação a esse cantinho verde da nossa Belo Horizonte.

Piquenique (16)

Esperamos você comer sua papinha para seguirmos rumo ao Morro do Piquenique para saborear as delícias preparadas pela vovó Marília, vovô Bill e tia Heidi. Ahhh que banquete e que dia mais divertido, leve e alegre.

Piquenique (28)

Mamãe adorou a idéia. Tanto que está pensando em fazer um novo piquenique para comemorar seu aniversário.

Piquenique (33)

Chegando em casa, fomos para a piscina aproveitar o fim de tarde com o solzinho gostoso do verão. Você ADORA!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saudade

Saudade da vovó Lourdes que, desde dezembro, está na praia e não tem data para voltar.

8 mese com papai