quinta-feira, 16 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Um desenho para você meu filho!
Meu pequeno,
Passei um tempo tentando entender a lógica do lugar em que nascemos. Algumas coisas me incomodavam muito, a ponto de não ser possível ignorá-las. Nossa desigualdade social, a nossa irreverência, irresponsabilidade, falta de cultura, de educação, falta de consciência da coisa pública, de preservação do patrimônio, a dificuldade de se distinguir entre o que é público e o que é privado, o machismo, o culto ao corpo, a sensualidade explorada de forma superficial e equivocada, a falta de compromisso com o meio ambiente, com o coletivo e a mania de querer sempre levar vantagem em tudo, apelidado por nós de "jeitinho brasileiro".
Por um tempo cheguei a acreditar que não pertencia a esse lugar. Queria viver no exterior, em outra cultura, com outros valores.
Não tive a oportunidade de morar fora do Brasil, mas em 2002 mudei-me da cidade em que hoje vivemos para Brasília e essa foi uma experiência importante. Nosso país possui uma diversidade cultural enorme e Brasília concentra um pouco de cada região já que lá vivem pessoas vindas do norte ao sul desse país de dimensões continentais.
Em minhas viagens sempre busquei entrar na cultura e modo de viver do lugar. É claro que a beleza arquitetônica, natural, histórica, gastronômica e artística me interessam também, mas nada me deixa mais fascinada do que a riqueza do ser humano, com seus diversos estilos de vida, suas escolhas, crenças e tradições.
De um certa forma, talvez pela minha sede e pelo meu olhar focado nessa direção, trago a sensação de que em minhas viagens acabei conseguindo captar um pouco do estilo de vida de cada local.
E depois de perambular como viajante por alguns países e várias cidades do Brasil posso afirmar que somente depois de conhecer um pouco o exterior é que descobri o quanto adoro o nosso país com seu clima tropical, seu povo otimista e sua rica musicalidade.
Éhhh pequeno, o Brasil tem um gosto e um ritmo que me encantam. Não carregamos o peso do passado como alguns países europeus. Não possuímos a fama consumista e imperialista que algumas nações trazem consigo e somos um povo alegre, amigo de todos, neutros, quase inofensivos.
Sinto-me um pouco parecida com o nosso país. Não gosto de nada extremista ou radical. Detesto o conflito e a desarmonia. Prefiro buscar o meio termo, o equilíbrio e evito a dualidade.
Reconheço minha limitação e a minha impotência já que não sou capaz de transformar o que precisa ser mudado, mesmo na minha pequena realidade.
De qualquer forma fico feliz por não ter perdido a capacidade de me indignar com algumas realidades que precisam ser urgentemente mudadas.
Não me conformo com o mundo da forma como ele se apresenta e isso me faz pensar. E pensar dói. Sentir também dói. Mas se não for para sentir e para pensar não sei se vale a pena viver.
Ontem, no meu trajeto para o trabalho, fiquei muito tocada com uma cena: um menino de uns oito anos vendendo balas no sinal... É duro. É triste. E é a realidade da maioria dos que não se encontram em uma situação de abundância e de privilégio como nós. E essa realidade nos circunda, está aqui ao lado, as vezes dentro das nossas próprias casas.
Desde que você nasceu passei a perceber algo que sempre esteve lá, mas que eu ainda não havia trazido para o nível consciente que é a capacidade de amar do ser humano.
Pegar-me amando você, seu pai, os seus avós, o menino do sinal, a Gaia -cachorrinha da sua Dinda e do seu tio Kalle - me fez refletir sobre nossa inesgotável capacidade de amar e de querer bem.
Meu filho, tirando o devaneio da frase anterior, o que eu queria mesmo era te dizer que me sinto privilegiada por tudo e que sou muito feliz por ser brasileira e por viver aqui.
Abaixo um desenho para você que hoje está completando um ano e um mês de vida.
“Atendendo a uma solicitação do governo americano e com o intuito de estabelecer uma politica de aproximação com o Brasil, Walt Disney fez esse e outros desenhos animados.
Era o final da Segunda Guerra Mundial, e o governo americano temia que o Brasil se tornasse um país comunista. O desenho foi criado nos anos 50, inteiramente a mão, sem computadores, efeitos digitais ou recursos mágicos do cinema de hoje.”
Os chorinhos e sambas de Ary Barroso são lindos, bem brasileiros.
Você ainda não assiste TV e nem DVD’s, e não conhece o Rio de Janeiro, mas aos poucos vai descobrir o país onde nasceu.
Clique abaixo no link do Youtube.