domingo, 23 de setembro de 2012

Ocupando o seu espaço

Meu filhote querido,

Posicionar-se nem sempre é uma tarefa fácil. Aos poucos a vida vai nos ensinando a fazer isso de forma mais construtiva.

O mais difícil de tudo é aprender a identificar a tenue linha que separa o seu lugar e o lugar do outro e, feito  isso, agir de forma delicada para defender o seu lugar no mundo.

Precisamos de observação diária para não avançarmos no espaço alheio e,  ao mesmo  tempo,  para não deixarmos com que invadam o nosso espaço. 

Ultimamente você tem chegado com mordidas dos coleguinhas e  fica repetindo  a seguinte frase: “amigo mordeu, amigo bateu”.

Da primeira vez foram duas – uma no ombro  e outra no peito - e ambas doeram muito em mim e no seu papai.

Sabemos que isso faz parte do processo e que você, com seu jeito doce e suave, está sendo convidado por seus  colegas a se posicionar diante dos fatos externos e da vida. Parecido com  seu pai, você prefere se recolher a ter que  enfrentar o embate e aos poucos você está descobrindo que pode sentir raiva.

Nosso desafio é ensiná-lo a se posicionar de forma delicada  e assertiva, mas como ensinar-lhe algo que até hoje eu mesma não aprendi?

Anedotas

 

Filhotinho, você é uma criança muito sorridente e bem humorada. São raros os dias em que acorda de mal humor e sempre é muito fácil arrancar gargalhadas gostosas e gritinhos de alegria de você!2 anos e 2 meses Adoro ouvir suas primeiras conversas, logo ao acordar. Um dias desses seu pai ouviu o seguinte: “Acorda Mimi, acorda Au Au que  eu vou chamar o papai e pedir a dedeira”.

Ultimamente você tem saido do berço  em silêncio e chega na cozinha ou na nossa cama com o  Mimi na mão e uma cara sorridente por de trás do bú. Acho esses momentos simplesmente deliciosos.

2 anos 3 meses com violão e Mimi (6)Seu cabelereiro é o Dartagnan, que tem um salão no coração da Savassi. Gosto de te levar lá bem cedinho, pois é mais fácil de estacionar. Ele costuma abrir o salão por volta de 8 ou 8:30. Da última vez que te levei ele chegou um pouco mais tarde. Fiquei de casa ligando e ninguém atendia o telefone. Daí te contei que o Dartagnan estava dormindo e que iriamos ter que esperar para ir. Quando chegamos lá, para vergonha da mamãe aqui, a primeira coisa que você disse foi: “Dartagnan estava dormindo!”

Umas duas semanas mais tarde, você pôs as mãos na cabeça e disse: “Preciso cortar os cabelos, mas o Dartaghan está dormindo”.

Você continua gostando de brincar com as bonecas da Isabela. Um dia desses, enquanto dava mamadeira para um dos bebês dela, a Sueli ouviu o seguinte: “Pode tomar, não está gelado não! Tá gostoso.”

Semana passada, voltando da escola a Sueli te perguntou: “O que o André fez na escola hoje?” Ao que, repetindo uma mãe que buscara a pouco seu filho, você respondeu: “Em casa a gente conversa”.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

“Sobre o blog, a maternidade e sobre o encontro com a própria sombra”

A  psicoterapeuta argentina Laura Gutman, autora do livro: “A maternidade e o encontro com a própria sombra” – que eu não li -  deu uma entrevista no blog mamatraca onde relatou que o nascimento de um filho é o evento mais avassalador da vida de uma mulher.

Ela disse que quando o filho nasce ocorre uma quebra física e emocional e que costuma emergir a “sombra”, ou seja, uma parte que desconhecemos de nós mesmas.

Comigo foi exatamente assim. Sua chegada sacudiu velhas estruturas, abriu minha  caixa de pandora e, instintivamente, surgiu em mim uma urgência de resgatar  a criança que fui, curando dores e preenchendo algumas necessidades ainda não atendidas.

A referida  psicoterapeuta explica que isso é muito comum de acontecer e que “a capacidade de contato físico e emocional, a entrega, a presença e a disponibilidade que podemos oferecer ao bebê depende de nossas próprias experiências pessoais”.

O blog que começou como um diário de fatos cotidianos, relatos da evolução da gravidez, do seu desenvolvimento e registro dos nossos sentimentos sobre tudo isso. Mas no meio do caminho a escrita foi tomando um carater muito pessoal e íntimo.

De uns meses para cá travei e identifiquei uma enorme resistência em continuar a publicar   e decidi preservar  a sua (a nossa) intimidade, fechando  o blog Given to Fly.

Agradeço de coração aos seguidores que nos acompanham em silêncio e também aqueles que deixam comentários carinhosos e divertidos.

Aniversário Vovó 08.04.12 (35)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Tremor nos lábios e um coração cortado

No quinto dia de adaptação, uma sexta-feira,  seu pai te levou à escola e você, já entendendo que seria deixado ali, chorou pela primeira vez.

Com isso, achamos que seria melhor que eu o levasse na segunda-feira, mas o choro se repetiu. A cena não foi das melhores: a Tati teve que te arrancar a força do meu colo.

No dia seguinte, depois de explicar várias vezes que você iria brincar, cantar, lanchar com os amiguinhos e que,  mais tarde, a  mamãe voltaria para te buscar, chegamos ao CLIC.

Dessa vez você não chorou. Obedientemente jogou-se no colo da Tati e, em seguida, virou-se para mim com um beicinho de choro que tremeu por algumas vezes e pronto: Elegantemente, como manda o figurino de uma mãe descolada e desapegada, como manda o nome do blog, saí com o coração dilacerado e com o meu próprio choro abafado na garganta.

sábado, 28 de julho de 2012

Primeiros resultados da escola hipongo-alternativa

Foi nisso que deu escolhermos para você uma escolinha hippongo-alternativa:

Hoje cedo descemos para a área de lazer do prédio com bola, o seu triciclo e o violão - porque esse você não solta por nada desse mundo!

O violão você tocou na casinha, no escorreagor, no balanço e na cabaninha que faço em baixo do escorregador para você se esconder.

Depois, finalmente e graças a Deus, você deu alguns chutinhos na bola, o que muito alegrou a mamãe, mas nem olhou para o triciclo e, quando fui ver o que você estava aprontanto parado no canteiro há tanto tempo, me deparei com você  fazendo carinho nas plantas!!!!

sábado, 30 de junho de 2012

Festa Junina

E na festa junina da escolinha hippie que mamãe e papai escolheram para você  o tema foi uma homenagem à “mãe terra'”. 

E como você entrou apenas cinco dias antes da festa, não deu para ensaiar as músicas com a turminha, mas foi a tempo de participarmos de uma festinha deliciosa nessa manhã de sábado.

Festa junina do CLIC Festa junina do CLIC (2)

 Festa junina do CLIC (34) Festa junina do CLIC (10)

E a Isabela, sua amiga do prédio,  e a sua priminha Bia estavam lá…

Festa junina do CLIC (11) Festa junina do CLIC (19)

 Festa junina do CLIC (12) Festa junina do CLIC (21)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sobre a escola, a coruja e o amor

Filhotinho querido,

Temos a sorte de morar em um bairro rodeado de boas escolas e, mesmo assim, não  foi tão fácil escolher a sua.

Depois de pesquisar, visitei apenas três. Cheguei a fazer reserva em uma delas, mas acabamos optando pelo Centro Lúdico de Integração e Cultura que, como a outra, é tão perto que dá para ir a pé. 

Festa junina do CLIC (33) Festa junina do CLIC (6)

 No final, o que fez a diferença foi o fato de o CLIC se parecer com  uma casa de vó,  repleta de árvores, com um enorme chão de terra para a meninada brincar e  uma horta com couve, taioba e outras hortaliças plantadas pelas próprias crianças.

Festa junina do CLIC (5)Festa junina do CLIC (49)

 Gostei também da idéia de não ser uma escola muito grande e da orientação por uma alimentação mais natural, da preocupação com o meio ambiente, com o consumismo exagerado, além de ter aula de música, yoga, massagem, uma sala com várias fantasias e a roda no início de cada turno para a molecada decicidir as atividades do dia.

Festa junina do CLIC (57)

Nesses primeiros dias  de sua adaptação, lembrei-me de um texto do Rubem Alves  e, ao relê-lo, me veio à mente a coruja da pousada de Mário Campos onde estive novamente por quatro dias na semana passada e a encontrei, mas em uma situação MUITO diferente da anterior.

Foi assim: voltando da caminhada matinal até uma cachoeira, quando estava indo tomar aquele delicioso café da manhã, sua Dinda Marina me chamou para que eu visse a linda coruja nas mãos de um dos funcionários do lugar.

Com a melhor das intenções ele foi ao ninho  dela – que estava chocando, diga-se de passagem – e a retirou de lá  para que nós, visitantes, pudessemos vê-la de perto.

Fiquei muito incomodada em ver o símbolo que elegi como a minha potencialidade de amar assustada e presa nas mãos de uma pessoa. Mais tarde tive notícia de que quando ela tentou voltar para o ninho, cega com a luz do dia e amedrontada, bateu três vezes com a cabeça no vidro de uma janela. E isso cortou meu coração.

E dessa estória fiquei com a seguinte lição, meu filhote:  corujas, passarinhos e pessoas são feitos para voar.

Esse é seu direito inato. E como diz o filósofo: a essência dos pássaros é o vôo. O vôo já nasce dentro dos pássaros e não pode ser ensinado, pode apenas ser encorajado.

Festa junina do CLIC (7) Festa junina do CLIC (26)

 Escolas são feitas para ensinar as crianças a serem livres, criativas, questionadoras, independentes, intuitivas e acredito que elas também tem seu papel no aprendizado de amar.

Espero que a escolha tenha sido acertada, querido. E finalizo essa mensagem citando Rubem Alves:

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”