sexta-feira, 28 de maio de 2010

A hora do banho

P5260003A partir do quarto ou  quinto banho você parou de chorar e de ficar tão assustado e desorganizado, passando a confiar e a curtir mais esse momento que é seu e do papai.

É isso mesmo!!! O banho é com o papai!

A mamãe só dá uma ajudinha.

A hora do banho 3 semanas (2)

Depois que começamos a seguir a dica da Melissa e da Fabiana de usar uma toalha para te aconchegar e te dar mais conforto, a hora do banho passou a ser uma festa!!

O chororo de protesto só começa quando te tiramos da banheira…..

 Fimezinho do banho do Zezin com 14 dias de vida!

Filmezinho do banho com papai cantando

sábado, 22 de maio de 2010

Sem o coto, registrado e com CPF!!!

P5120063 Ontem papai saiu cedinho para te registrar e voltou para casa não apenas com sua certidão de nascimento, mas também com seu CPF!

Com oito dias de vida, o cordão umbilical caiu e, terminada uma semana repleta de compromissos e saídas para pediatra, infectologista, ultrasom pélvico, vacinas e retirada dos meus pontos, finalmente o fim de semana chegou!

Ficaremos em casa todo o tempo a nos curtir e nos conhecer um pouco mais, vivendo as delícias e dificuldades desse início.

Sabemos que você ainda está se ambientando e se acostumando com tanto espaço, luz e barulho e que essa agenda tão lotada logo no início não foi nada divertido. Mas, aos poucos, as coisas estão se acalmando.

De vez em quando mamãe ainda se assusta quando, circulando pela casa, passa e te vê serenamente dormindo: lindo, frágil, divino e tão dependente de nossos cuidados.

De uma semana para outra nossas vidas, nossas perspectivas, interesses e prioridades mudaram completamente. Com o passar dos dias os laços afetivos e nosso vínculo vão se consolidando e o amor e o entendimento vão sendo construídos à medida que nos conhecemos melhor.

Suas principais atividade no momento são: dormir, mamar, chorar, segundo vovó Marília, um chorinho manso e doce, além de chupar e "mastigar" as mãos, aliás o que você já começou a fazer assim que nasceu.

Veja o registro nesse Filmezinho com menos de uma hora de vida.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O mais novo Morador da rua Passa Tempo

Dois dias depois do seu nascimento, eu e você tivemos alta e fomos para casa com o papai.

A chegada no nosso apartamento foi um momento especial. Algo parecido com os noivos logo que a festa termina e, no quarto do hotel da lua de mel, podem comemorar: “Enfim sós”!

Foi muito bom passar esses primeiros dias somente nós três, sem a ajuda de babá, empregada e até mesmo das pessoas queridas que gentilmente se ofereceram para ajudar.

Aproveitamos esse tempo para nos conhecermos e para começarmos a nos entender.

A sorte da mamãe e do papai é que você revelou ter uma natureza muito doce, tranquila e serena, mesmo com as nossas inúmeras trapalhadas.

A todo tempo eu repito: “André, tenha paciência com mamãe e papai, eu prometo que iremos melhorar”.

E você parece não se importar muito com a nossa falta de jeito, com nossas dúvidas e confusões. Você está aqui para nos ajudar a construir o nosso entendimento acima das palavras.

Segundo sua prima Jô no futuro as coisas inverterão: “será André quem fará as trapalhadas dele... e mamãe e papai estarão aí só para ajudar...”.

domingo, 16 de maio de 2010

12 de maio de 2010

O dia amanheceu nublado e chuviscando. O Ricardo descreveu poeticamente que, apesar do tempo fechado, havia no ar “uma sensação clara de DIA LINDO, como se a força do Sol estivesse dentro de mim”. E ele continuou: “É a ALEGRIA, INTENSA, pela chegada do ANDRÉ, uma dádiva na vida de todos nós e, principalmente, na vida de vocês dois”.

P5120053Mamãe estava tranquila e confiante, mas talvez um pouco triste por causa da vontade de que você ficasse mais tempo aqui dentro aconchegado e protegido no seu primeiro ninho.

Deixamos as malas e os demais detalhes previamente arrumados.

Em todos os cômodos da casa haviam sinais e modificações que anunciavam sua breve chegada.

Papai instalou o bebê conforto no carro, subiu com os carrinhos e banheira, instalou o chuveirinho da pia para o seu banho, selecionou músicas, preparou o som e a cortina do seu quartinho. Pronto! Não faltava nada, só faltava você.

P5130113Chegamos cedinho na maternidade Vila da Serra com a dinda Marina, as nossas malas, trufas de lembrancinha, bombons para as enfermeiras, comidinhas e bebidas para o frigobar. Tudo certo e dentro do esperado.

Só uma coisa ficou para trás… A sua malinha! Ela foi feita e refeita várias vezes e, na pressa de sair para a maternidade, acabou ficando para trás… Inacreditável, não?

Na foto acima o papai está chegando mais tarde com a malinha esquecida no armário...

Morremos de rir da situação que, na verdade, foi um prenúncio das trapalhadas que ainda estavam por vir. Mas acabou sendo bom porque eu estava de jejum e papai pode almoçar e celebrar a sua chegada com a vovó Lourdes que, com a tia Mercita, foram as suas primeiras visitas.

P5120015Muitas pessoas falam da emoção que se sente quando se vê pela primeira vez o recém nascido.

De fato, é algo que não dá para se descrever.

Da mesma forma não é possível colocar em palavras a intensidade do sentimento de plenitude, de amor, de ternura e felicidade que vem quando vejo o papai se derretendo ao te admirar.

Ver vocês dois juntinhos, se descobrindo, se conhecendo e se admirando mutuamente provoca em mim uma emoção transbordante que não se compara a nada que até então eu já tenha experimentado.

P5120018Sua chegada ao mundo foi serena e sem percalços. Correu tudo muito bem.

Ter a tia Marina na sala de parto foi um conforto e uma emoção a mais para esse coração já tão sobrecarregado de fortes sentimentos.

P5120032 Você nasceu com 53 cm, 3,710kg e lindo de morrer.

Sei sou suspeita para falar, mas as imagens não mentem…

Esse aí é você com menos de uma hora de vida.

Depois de ficar um tempo em observação pude ir para o quarto onde fiquei esperando você chegar para, finalmente, poder te pegar, te olhar , te sentir, conversar com você e te colocar sob a minha barriga, corpo a corpo, coração com coração.

P5120057Foi uma delícia perceber que você reconhece a minha voz e fica tentando me enxergar apesar da claridade que agride os seus olhos.

A segunda visita foi da Lucele e Cynthia, seguida da vovó Marilia e da Tia Heidi, Carla Eboli, vovó Maurício - que acampou no quarto até as 20 horas e se emocionou ao ver o vídeo que o papai fez. E para terminar o dia, Bárbara, Piedade e Lúcio.

P5130189No dia seguinte: Dani e Jorge, Malu e Rogério, Carol, Juliana Justo e Amanda, Melissa e Ricardo, vovô Maurício, Tia Heidi, Rosa, Dia, Elzinha, Beth, Fábio, Tia Sílvia, Carminha, Ana Maria, Paula e Lara, Andrea, Renato, Arthur e Isabel, minha afilhadinha deliciosa, Fabiana, Henrique e o fofo do Daniel, Camila, sua madrinha Tereza, seu padrinho Elias e o filho dele, o Tiago.

Para terminar esse post cito um trechinho da crônica ‘A canção de qualquer mãe’, da Lya Luft, (aqui) :

com o André pela 1a vez “Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência.

P5120020 A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra.

E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter. “

P5130215

sábado, 8 de maio de 2010

Quase tudo pronto!

Entrando na 39 semana, quase tudo está pronto para te receber. Em poucos dias teremos você em nossos braços e deixaremos de ser ‘nós dois’ para sermos ‘nós três’!

Queremos te mostrar nossa casinha, te apresentar para nossa família e amigos e, finalmente, te acolher e tentar fazer com que você não se sinta tão solto e assustado com tanto espaço livre ao seu redor.

Esse momento traz um turbilhão de emoções e expectativas. Será que saberemos lidar com todos os imprevistos, surpresas e, emergências? Seremos capazes de entender o que você sinaliza e interpretar o seu choro? Devemos seguir as orientações da Pediatra, da OMS ou as dos livros que lemos? Dormir de lado ou de barriga para cima? Álcool 70% ou álcool absoluto? Amamentação por livre demanda? Chupeta?

No último ultrassom você estava medindo uns 50 cm e pesando 3130 kg. De lá para cá, não sabemos o quanto você cresceu e engordou.

Tudo será surpresa já que, de dezembro para cá, optamos por fazer todos os ultrasons com o Dr. Francisco da clínica CEU, onde as imagens não são tão nítidas quanto as de outras clínicas. Na verdade, o que eu e papai vemos não passa de um borrão preto na tela.

A cada pedido de ultrasom nos perguntávamos: faremos um ultrasom ‘pirotécnico’ – para ver detalhes como qual o formato do seu rosto, da sua boquinha e nariz - ou faremos o ultrasom ‘borrão preto’ na clínica CEU?

E sempre acabávamos indo no Dr. Francisco para ver detalhes do seu rim. Esse sim nós conhecemos muito bem, principalmente o direito.

Das leituras que fiz, um dos livros que mais gostei depois de “Os segredos de uma encantadora de Bebês”, da Tracy Hogg, foi “O Livro do Papai”, do Hélio De La Peña (aqui).

ursinho2Ele é muito engraçado e contém muitas verdades como essa, que morri de rir: toda criança nasce um gênio, mas com a convivência com os pais começam a se deteriorar e a sucumbir com tamanha ignorância.

É isso aí filhote, em poucos dias entraremos na Maternidade Vila da Serra e sairemos de lá com você em nossos braços.

Esperamos que você sobreviva apesar (risos) da mamãe e do papai.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sozinha mas em boa companhia

Não evito uma solidão esporádica. Na verdade, a mamãe curte os  raros momentos de silêncio em que posso estar completamente só.

Desde quarta-feira o papai está viajando e confesso que estou - e imagino que ele também esteja - curtindo esses momentos de resgate. Sem a solidão não sou capaz de me escutar, de me reconhecer.

Segundo Hilda Lucas “solidão é o lugar onde encontro a mim mesma”.

Concordo com a colunista que diz que “Num mundo superlotado, onde tudo é efêmero, voraz e veloz, a solidão pode ser oásis e não deserto.  Solidão é exercício, visitação. É pausa, contemplação, observação. É inspiração, conhecimento. É pouso e também vôo. É quando a gente inventa um tempo e um lugar para cuidar da alma, da memória, dos sonhos; quando a gente se retira da multidão e se faz companhia. Quando a gente se livra da engrenagem e troca o medo de ser só pela coragem de estar só.”

Claro que não estamos falando de solidão como isolamento, e a escritora continua: “Ninguém quer ser solitário, solto, desgarrado. O desafio é poder recolher-se para sair expandido. É fazer luz na alma para conhecer os seus contornos, clarear o caminho e esquecer o medo da própria sombra.”

E para que eu possa estar verdadeiramente com as pessoas ao meu redor, preciso antes estar comigo. Sem a solidão acabo me espelhando nos outros e corro o risco de esquecer de mim, de quem sou.

Foi por tudo isso que, em 2007, criei o desafio de viajar sozinha Pucón (1) para Buenos Aires e Chile, já que o papai, por opção, não tirou férias. E o interessante é que foi justamente nele que fui buscar coragem e forças para viver a experiência e o desafio de viajar tendo eu mesma como minha única companhia.

Queria vivenciar situações nas quais tivesse que me virar sem contar com a prudência, com o equilíbrio, com a estabilidade, a sabedoria e a segurança que sinto ao lado do seu pai.

Queria também, é claro, conhecer lugares, pessoas interessantes, que me mostrassem novas realidades, culturas e filosofias de vida. Pessoas que pudessem ampliar os meus – ainda limitados- horizontes com seus relatos e vivências. E, principalmente, queria estar mais em contato comigo mesma.

Quando se viaja só parece que tudo é mais intenso. Passar um tempo sem que ninguém ao seu redor saiba exatamente quem você é, por si só, é uma experiência tão interessante quanto a viagem.

E a decisão não foi apenas uma questão de provar algo para mim ou para alguém. Imagino que algumas pessoas me consideraram excêntrica por viajar só. Outras podem até ter me taxado de misantropa quando, em 2008, novamente fui sozinha para Washington e Nova Iorque. Mas, aqueles que me conhecem melhor sabem que gosto de uma vidinha social, que aprecio uma boa companhia para uma cervejinha e que não tenho nada de eremita.

É claro que, como todo mundo, eu também tenho os meus momentos de melancolia e de carência e, de tempos em tempos, me isolo um pouco, mas nada que ultrapasse o que considero saudável e natural.

Na verdade acredito que esses momentos de reflexão, em que a emoção fica mais intensa e aguçada, são muito importantes, pois geram a oportunidade de reavaliar os padrões e escolhas que fazemos a toda hora.

Nesses poucos momentos podemos reescrever nossa estória e dar a forma e a cor que preferirmos para os fatos e acontecimentos ocorridos.

O roteiro de viagem escolhido foi a região dos Lagos Chilenos passando por Santiago e, mais uma vez, Buenos Aires. Nessas duas últimas cidades encontrei-me com o Ricardo e Melissa que estavam fazendo praticamente o mesmo roteiro.

Lembro-me que, sobrevoando a Cordilheira dos Andes no vôo entre Buenos Aires e Santiago, sozinha,  senti-me como o menino do texto do Eduardo Galeano que a Amanda me mandou:

A função da arte - Eduardo Galeano

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

"Me ajuda a olhar!"

O vôo foi realmente belíssimo! Faltou-me ar diante da beleza e da imponência dos picos nevados contracenando com o céu azul.  E não tinha ninguém para me ajudar a olhar... Fiquei ali, inutilmente, tentando sozinha absorver tanta beleza.

É comum as pessoas relacionarem as desvantagens de viajar só. Realmente existem vários inconvenientes. Vc pode machucar-se, passar mal, ser assaltado, ser mal tratado e, estando sozinho, enfrentar qualquer uma dessas situações é muito mais difícil. Além disso, você não tem com quem dividir os bons e belos momentos sendo que jantar e acordar sozinha não é realmente muito divertido.

Mas existem vários os aspectos positivos que fazem valer a pena viver essa experiência. Primeiramente por poder fazer o que queremos, quando queremos e da forma que queremos. Mas isso é o de menos. Sozinhos somos obrigados a  tentar descobrir o que realmente queremos fazer sem qualquer influência externa e,  por incrível que pareça, isso não é tão fácil.

Quando estamos sós, ficamos mais abertos para conhecer outras pessoas e ficamos mais humildes, mais centrados e espontâneos, sem medo de fazer o que realmente queremos. Vivemos intensamente cada situação.

Entardecer em Pucón (1) Nessa viagem mamãe escalou o vulcão Vila Rica. A escalada não foi fácil. Pensei em desistir. Senti-me um pouco mareada, tonta e fraca nas partes mais íngremes que, na verdade, eram verdadeiras paredes de neve nas quais eu tinha que ir equilibrando naqueles grampões de gelo que se encaixam nas botas. Para quem nunca tinha pisado em neve, foi uma verdadeira overdose.

No meio do caminho... suspense... Escalada ao Vulcão Villarrica - Pucón (13) Estava ventando muito e o vento levantava a neve do chão e chicoteava nosso rosto tirando nosso equilíbrio. O guia avisou que se continuasse assim não poderíamos prosseguir já que lá em cima o vento seria ainda mais forte. Continuamos subindo e controlando o cume. Víamos lá de baixo nuvens de neve serem levantadas com as fortes rajadas do vento. Parei de olhar para baixo e para cima e fui seguindo, passo a passo, olho fixo no chão pensando em desistir a qualquer momento. Somente assim pude chegar ao cume de um dos vulcões mais ativos da América do Sul.

De lá pude ver o magma quente e vermelho explodindo do coração da terra. Muito impressionante a força da natureza.

Nosso grupo era composto por duas Irlandesas, uma Eslovênia e um Inglês, além dos dois guias chilenos. A descida foi muito divertida e com muita adrenalina. Descemos de skibunda com uma proteção especial para não nos molharmos.

Escalada ao Vulcão Villarrica - Pucón (26) A companhia contratada ofereceu, além do seguro, todo o equipamento, ou seja, botas para caminhar na neve, calça, blusas de frio, grampões para encaixar nas botas, aqueles martelos que não sei como se chamam e que fazem às vezes dos bastões de caminhada, capacete, gorro, luvas. Estava muito frio, 5o C abaixo de zero. Mas valeu o esforço. O visual lá de cima é belíssimo e, mais uma vez, senti falta do seu pai para que ele me ajudasse a olhar.

André, espero que você tenha muitos amigos e que encontre uma pessoa bacana para compartilhar a vida, mas desejo, principalmente, que você seja boa companhia para você mesmo.

Que saiba se recolher e se resgatar sempre que isso for necessário.

Espero que aprenda a se sentir confortável consigo mesmo e saiba escutar o silêncio interno para seguir de forma consciente o seu destino.

Papai chega hoje a noite, ansioso para sentir você se movimentando em minha barriga e feliz por retornar para nossa casa. E eu, renovada, mais feliz ainda de tê-lo por perto.

sábado, 1 de maio de 2010

Tudo é novo para os meus olhos velhos

Ontem, sexta-feira, chegando em casa do trabalho, cansada, com fome e sem companhia para jantar, já que o papai vai passar o fim de semana em Porto Alegre, tive um encontro muito interessante no elevador do prédio onde moramos, o que me fez refletir sobre o quanto nos enjaulamos em nós mesmos e em nossos pensamentos incessantes, em nossas pequenas preocupações, devaneios e medos infundados.

Mas, quando conseguimos desacelerar o ritmo voraz da nossa mente, e somos capazes de nos abrir para as pessoas e para a vida da forma como ela se apresenta, um novo mundo se descortina, especialmente quando escapamos do condicionamento e da pressa que em geral nos acomete no dia a dia, saindo fora da correria e das intermináveis tarefas a cumprir.

Somente nesses raros e deliciosos momentos podemos perceber a riqueza, a generosidade e a delicadeza das pessoas e a beleza da vida.

Com você aqui, no decorrer desses nove meses, esses episódios têm ocorrido com mais frequencia: “tudo é novo para os meus olhos velhos”.

A sua presença em nossas vidas nos aproxima das pessoa que, atraídas pela barriga e pela beleza que a materninade representa, chegam com palavras carinhosas, sorrisos generosos, votos de saúde, de ‘boa hora’, ou seja qual for o pretexto.

Foi muito gostoso descobrir que existe uma cumplicidade entre mamães e papais, vinda da compreensão da magnitude e da resposabilidade que significa gerar e carregar por nove meses um serzinho tão frágil, tão lindo e tão divino.

Moramos nesse prédio da rua Passa Tempo há quase três anos e, até então, conheciamos muito pouco os nossos vizinhos, a não ser pela cordialidade dispensada nos encontros dos elevadores, garagens e área de lazer.

Mas com você aqui, tudo está mudando. As pessoas se aproximam e perguntam sobre você, qual o seu nome, quando você chegará e oferecem ajuda, conselhos, fazem votos e sorriem com uma cumplicidade totalmente nova para mim e para o papai.

E foi assim que ontem conheci um pouco mais a Paula e o Ricardo, que moram no 11 andar e são pais da Maria Clara.

Eu e a Paula subimos juntas no elevador e acabamos ficando por quarenta minutos dividindo nossas experiências e nos emocionando com as coincidências, alegrias e sustos que vivemos logo no início das nossas gestações.

No caso da Paula, além da toxo, os imprevistos continuaram durante toda a gravidez, mas, nem por isso, ela deixou de curtir e acreditar que tudo daria certo, como de fato deu: a Maria Clara é uma boneca!

Muito valente mesmo essa menininha que, prematura, ficou 10 dias longe da mãe que estava no CTI devido a complicações advindas de placenta prévia. Mesmo assim mamou até os quatro meses!!!! Incrível!!!!

Em seguida chegou o Ricardo que, como oftalmo, gentilmente se ofereceu para acompanhar o desenvolvimento dos seus olhinhos e para dar dicas e orientações sobre os exames e cuidados que deveremos ter com você em seu primeiro ano de vida por causa do danadinho do protozoário intrometido.

Tributo a Billie Holiday em Ouro PretoEsse encontro me fez relembrar a emoção que tomou conta de mim no dia 19 de setembro do ano passado, ou seja dois dias depois de confirmarmos a gravidez e três dias após o segundo resultado positivo de toxo, quando, em uma noite chuvosa e fria do Festival de Jazz de Ouro Preto Madeleine Peyroux e Mart’Nália reuniram-se com grandes nomes mundiais do jazz no palco montado ao ar livre na frente do Largo do Rosário para um tributo à Billie Holiday.

Fiquei tão encantada com a voz rouca da sambista carioca interpretando divinamente ‘God Bless This Child’ (aqui) que, naquele exato momento, tomada pela emoção e beleza daquela cidade, da chuva que caia, da música brasileira misturada ao jazz, decidi, juntamente com o papai, deixar a racionalidade de lado e optar por deixar a vida seguir seu fluxo natural, nos levando para onde ela bem entendesse, sem pensar em qualquer decisão de cunho puramente racional sobre os riscos e rumos da nossa gravidez.

madaleine e martnália

Sempre que me lembro dessa noite fico emocionada e, agora que tudo está dando certo, sinto-me afortunada e agradecida aos profissionais que nos acompanharam (Dr. Unaí, Dra. Eliana Lustosa, Dra. Jurema e Dra. Marília) e aqueles que continuam nos acompanhando (Dr. Frederico e Dr. Francisco), sem falar na sabuda da sua Dinda que foi quem diagnosticou de primeira o problema.

Além da Paula e do Ricardo, estamos conhecemos um pouco a Flávia e o Henrique do 1501 e a Adri e Gustavo do 1003 andar.

Também estou mais próxima da vovó Marília, da Tia Lina, tia Tereza, da Deinha, da Daniele, da Amanda, Ana Cristina, Talita, do Oscar, da Sílvia e de tanta gente que nem vou continuar listando para não correr o risco de me esquecer de alguém.

Éhhhh rapazinho, a sua chegada trouxe o desafio de sairmos do casulo aconchegante e gostoso que criamos ao longo desses 19 anos de namoro.

Chegou uma nova fase, momento de nos doarmos para você, para o mundo e para as pessoas que nos cercam. E tudo isso é muito bacana!