quarta-feira, 24 de março de 2010

Por que Given to Fly 2

Como mamãe disse, eu sugeri o nome assim que ela propôs a criação do blog. Esse nome, Given to Fly, foi retirado de uma música do Pearl Jam, uma das que mais gosto de uma das bandas de rock que mais gosto.

Bom, não conseguirei explicar a influência dessa música em mim sem contar um pouco sobre como sou e como vivi esses 42 anos, até então.

Olhando para trás, sinto que, de modo geral, arrisquei pouco; sempre gostei de uma certa dose de previsibilidade. Quando comecei a trabalhar com o seu avô Osmar como representante comercial, em 1987 (oficialmente, pois extra-oficialmente iniciei antes), achei aquilo o máximo, pois viajava por todo o estado e tinha a minha renda, isso com 19 anos de idade. Meu curso de Engenharia Elétrica não me motivava, e optei por interrompê-lo. Passados dois anos, vovô faleceu, e senti que amadureci abruptamente com o fato de ser, a partir daquele momento, o responsável pelo sustento da vovó Lourdes e da sua casa, tal qual vovô fazia.

Em 1991, eu e mamãe começamos a namorar, e a vida era gostosa e previsível: viajava a semana inteira e voltava para casa todos os finais de semana. Profissionalmente, as empresas que o vovô representava me deram suporte, e, naquele momento, eu já era reconhecido por elas e pelos clientes como o Osmar Filho, e não mais como o filho do Osmar. Isso era bom, e me fazia experimentar uma sensação de afirmação muito boa.

Porém, aos poucos eu comecei a ter dúvidas se realmente gostaria de ser representante comercial pelo resto da minha vida profissional. Permanecer na zona de conforto é mais fácil do que arriscar, e acabei me convencendo que sim, era essa a minha profissão.

Foi quase nos anos 2000 que a ficha caiu. Comecei a sentir que eu pouco havia experimentado em minha vida. Aos 34 anos de idade, quais lugares e culturas diferentes havia conhecido? Quais esportes havia praticado? SEMPRE fui apaixonado por motociclismo de trilha: por que nunca fiz? A profissão que escolhi me dava as condições para mudar essa situação? Comecei a achar que não.

Em 2000, nos casamos. Nesse ano, houve um grande susto profissional que mexeu muito comigo: a Prada, empresa que o vovô representava desde os anos 60, e que simbolizava o ápice da zona de conforto que eu citei antes, fechou repentinamente. Ufa, foi um sufoco que durou algumas semanas, até que chegou a notícia de que a empresa iria continuar sob nova administração, com o nome Pralana. Mas, algo se quebrou, e agradeço hoje por esse episódio. É como a estória do fazendeiro que viu um visitante empurrar sua única vaquinha para um precipício…..

Em 2001, um indicador da mudança: comprei uma moto de trilha. Procurei o primo Geraldinho, que havia sido campeão mineiro de motocross e tinha uma escola de motociclismo, e pedi ajuda na compra da moto. Comprei um foguete: uma japonesa Suzuki RMX 250 amarela, apelidada de Dulce. De cara, deu para ver que a moto era muito poderosa para as minhas habilidades, e eu vivia no chão, ou “you’ve got stuck in a moment, and you can´t get out of it” (U2), ou seja, olhando morros que eu não conseguia subir.

Mas, e daí, a moto que comprei me dava asas, faltava a minha parte. Contratei aulas com o Geraldinho, e ia todo sábado para uma pista profissional (sede do mundial de cross) que ficava onde hoje é a cidade administrativa. Comecei a voar……

É isso, foi aí que tudo mudou. Quando voltei para as trilhas, não era mais o mesmo Osmar bom rapaz dos anos 90, e, pela primeira vez, realmente, saí da zona de conforto. Como diz a música, “Alone in a corridor, waiting, locked out…..The wind rose up…..Delivered him wings “Hey, look at me now””. E nosso herói da música começa a enxergar chaves para os cadeados everywhere. Pois bem, voltando a minha história, lembro-me de correr perigo, de literalmente voar sobre pedras e minério, e pronto: teve início uma transformação!!! Eu e mamãe encaramos sozinhos Torres del Paine, na Patagônia Chilena, e isso me fez muito bem também, assim como a travessia Petrópolis-Teresópolis.Travessia Petrópolis Teresópolis 017 Por do Sol no Açu Em ambas, chegamos no limite do esforço físico (mamãe em Torres del Paine, eu na travessia Petro-Terê), e foi bom isso. Corremos riscos, principalmente na segunda. 

André, não tenha medo de experimentar; viva a vida de maneira plena, viaje, conheça pessoas e culturas, toque um instrumento, compre uma moto, venda a moto e compre uma passagem para as férias, namore, sofra, se vire. Não fique na zona de conforto, corra riscos!

Eu realmente espero que eu seja capaz de te ensinar isso, mesmo não sendo assim….

Como eu traduzo Given to Fly? ter inclinação para voar.

Travessia Petrópolis Teresópolis 077

Até hoje sinto um gostinho de minério na boca quando ouço essa música, até hoje ela me arrepia. Mas não tenho inclinação para voar, senão teria feito isso mais vezes. Um dia, lendo isso, você vai me perguntar: por que você vendeu a moto 2 anos após a compra? Por que ela cumpriu seu papel, me fez mudar e permitiu com que eu fizesse aquilo que os meus heróis dos anos 80 faziam. Hoje, gosto mais de trekking, isso me motiva mais. É uma maneira diferente de voar, de chegar literalmente próximo ao ninho dos condores.

 

Um comentário:

  1. É isso aí papai Osmar!!!!
    Como já dizia o poeta Vinícius de Morais:

    "Quem já passou por essa vida e não viveu
    Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
    Porque a vida só se dá pra quem se deu
    Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu..."

    ResponderExcluir