Filhotinho querido,
Temos a sorte de morar em um bairro rodeado de boas escolas e, mesmo assim, não foi tão fácil escolher a sua.
Depois de pesquisar, visitei apenas três. Cheguei a fazer reserva em uma delas, mas acabamos optando pelo Centro Lúdico de Integração e Cultura que, como a outra, é tão perto que dá para ir a pé.

No final, o que fez a diferença foi o fato de o CLIC se parecer com uma casa de vó, repleta de árvores, com um enorme chão de terra para a meninada brincar e uma horta com couve, taioba e outras hortaliças plantadas pelas próprias crianças.


Gostei também da idéia de não ser uma escola muito grande e da orientação por uma alimentação mais natural, da preocupação com o meio ambiente, com o consumismo exagerado, além de ter aula de música, yoga, massagem, uma sala com várias fantasias e a roda no início de cada turno para a molecada decicidir as atividades do dia.

Nesses primeiros dias de sua adaptação, lembrei-me de um texto do Rubem Alves e, ao relê-lo, me veio à mente a coruja da pousada de Mário Campos onde estive novamente por quatro dias na semana passada e a encontrei, mas em uma situação MUITO diferente da anterior.
Foi assim: voltando da caminhada matinal até uma cachoeira, quando estava indo tomar aquele delicioso café da manhã, sua Dinda Marina me chamou para que eu visse a linda coruja nas mãos de um dos funcionários do lugar.
Com a melhor das intenções ele foi ao ninho dela – que estava chocando, diga-se de passagem – e a retirou de lá para que nós, visitantes, pudessemos vê-la de perto.
Fiquei muito incomodada em ver o símbolo que elegi como a minha potencialidade de amar assustada e presa nas mãos de uma pessoa. Mais tarde tive notícia de que quando ela tentou voltar para o ninho, cega com a luz do dia e amedrontada, bateu três vezes com a cabeça no vidro de uma janela. E isso cortou meu coração.
E dessa estória fiquei com a seguinte lição, meu filhote: corujas, passarinhos e pessoas são feitos para voar.
Esse é seu direito inato. E como diz o filósofo: a essência dos pássaros é o vôo. O vôo já nasce dentro dos pássaros e não pode ser ensinado, pode apenas ser encorajado.
Escolas são feitas para ensinar as crianças a serem livres, criativas, questionadoras, independentes, intuitivas e acredito que elas também tem seu papel no aprendizado de amar.
Espero que a escolha tenha sido acertada, querido. E finalizo essa mensagem citando Rubem Alves:
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”