sábado, 2 de outubro de 2010

Vida de criança

Mamãe está aproveitando a licença maternidade para fazer várias coisas que há muito queria. Nesses meses assisti a inúmeros filmes, seriados, documentários, li bastante, muito sobre bebês : ) e agora estou passeando por meus diários.

Comecei a escrevê-los quando tinha 9 anos e estou surpresa ao perceber como foi (e como é) dura a vida de criança.

Muitas pessoas não concordam. Guardam com saudade uma imagem idealizada de que a melhor fase da vida é a infância.

Muito do  que somos hoje, muitas das nossas feridas, condicionamentos e preconceitos que nos impedem de viver uma vida mais plena vêm desse período tão turbulento.

Durante a infância, enquanto eu buscava a minha identidade, foi frequente o sentimento de abandono, inadequação, de medo, solidão e a sensação – verdadeira ou não - de que eu não era compreendida.

Lembro-me de que, por medo e por obediência, dizia “não” quando queria dizer “sim” e dizia “sim” quando queria dizer “não”. Acreditava que não poderia ser eu mesma sob pena de não ser amada, de não ser aceita.

Era uma menina obediente e comportada, mas é claro que tinha meus momentos de rebeldia e agressividade. No geral seguia o script e as regras impostas. Regras que não eram minhas - e eram muitas!

Desde muito pequena eu e minhas irmãs éramos responsáveis por várias tarefas como fazer a própria cama, varrer o quintal, molhar as plantas, fechar as janelas da casa, lavar vasilhas, esquentar o jantar para o vovô Louwerens, lavar alface – ha ha, isso até virou lenda na família.

Eu  tinha horário fixo para dormir – e tinha que ir estando ou não com sono, dia e hora certa para ver televisão e o refrigerante  só era permitido uma vez ou outra.  Balas e chicletes? Nem pensar!

Não estou dizendo que não tive uma infância feliz ou que faltou afeto. Pelo contrário! Sempre morei em casas com muitas árvores e quintais povoados por gatos, cachorros, passarinhos e  outros tesouros.

Subia nos telhados e nas árvores, brincava na rua, tomávamos “banho de mangueira”, acampava com frequência, mas  sonhava em crescer e não depender mais de tudo e de todos. Sonhava com a liberdade de viver minhas próprias regras  e sonhava com o momento em que me tornaria responsável pelos meus erros e acertos.

O mundo exige muito das crianças. Quando aprendemos a rolar, esperam que nos sentemos e mal começamos a engatinhar, já existe a ansiedade e a expectativa para que arrisquemos os primeiros passos, as primeiras palavras e por ai vai. A lista não tem fim... 

Esperam que sejamos educados, inteligentes, contidos e delicados como são -  ou pelo menos como deveriam ser - os adultos.

Na cama do papai e mamãe quase 5 meses (5)

É claro que não estou aqui defendendo a falta de limites e a permissividade tão comum nos dias de hoje.

Regras devem ser impostas  não apenas para que a criança aprenda a fazer  parte da engrenagem social, mas também para evitar que se machuque com sua natureza espontânea, desmedida e ingênua.

Nesse sentido, as regras são muito bem vindas sendo necessárias e imprescindíveis. O difícil é administrar a vontade de ser livre e autônomo com a vontade se ser protegido, cuidado e amparado.

Quase 5 meses com vó Rosa e Dia (17)Meu pequerrucho, queria que você soubesse que quando eu assumir o papel da mãe chata, rigorosa, exigente e autoritária, saiba que será por amor.

E nas inúmeras vezes em que eu errar ou exagerar, saiba que o intuito é de proteção,  de guiança, da mesma forma que seus avós fizeram conosco.

2 comentários:

  1. André ... achei que a sua mamãe estava muito inspirada quando escreveu isto, e me identifiquei também com o que ela disse. a nossa infância, foi marcada de momentos bons e de frustrações, como a de quase todas as crianças, acho. bj, da dinda.

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  2. Dinda Lina,

    Sabe o que achei em um dos diários?

    O mapa do tesouro da casa da Getúlio Vargas traçado por vc e Lu Malta com a caverna da cinco caveiras, o vulcão maldito, a casa do tigre preguiçoso e o baú com o tesouro que eram balas chita e pirulito campeão.

    Hoje reconheço que foi boa a proibição de vermos televisão durante a semana. Por mais que ficássemos por fora do assunto na escola, fomos forçadas a nos virar e ser muito criativas para preencher o tempo.

    E o refrigerante também não fez tanta falta, não é?

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