sábado, 1 de maio de 2010

Tudo é novo para os meus olhos velhos

Ontem, sexta-feira, chegando em casa do trabalho, cansada, com fome e sem companhia para jantar, já que o papai vai passar o fim de semana em Porto Alegre, tive um encontro muito interessante no elevador do prédio onde moramos, o que me fez refletir sobre o quanto nos enjaulamos em nós mesmos e em nossos pensamentos incessantes, em nossas pequenas preocupações, devaneios e medos infundados.

Mas, quando conseguimos desacelerar o ritmo voraz da nossa mente, e somos capazes de nos abrir para as pessoas e para a vida da forma como ela se apresenta, um novo mundo se descortina, especialmente quando escapamos do condicionamento e da pressa que em geral nos acomete no dia a dia, saindo fora da correria e das intermináveis tarefas a cumprir.

Somente nesses raros e deliciosos momentos podemos perceber a riqueza, a generosidade e a delicadeza das pessoas e a beleza da vida.

Com você aqui, no decorrer desses nove meses, esses episódios têm ocorrido com mais frequencia: “tudo é novo para os meus olhos velhos”.

A sua presença em nossas vidas nos aproxima das pessoa que, atraídas pela barriga e pela beleza que a materninade representa, chegam com palavras carinhosas, sorrisos generosos, votos de saúde, de ‘boa hora’, ou seja qual for o pretexto.

Foi muito gostoso descobrir que existe uma cumplicidade entre mamães e papais, vinda da compreensão da magnitude e da resposabilidade que significa gerar e carregar por nove meses um serzinho tão frágil, tão lindo e tão divino.

Moramos nesse prédio da rua Passa Tempo há quase três anos e, até então, conheciamos muito pouco os nossos vizinhos, a não ser pela cordialidade dispensada nos encontros dos elevadores, garagens e área de lazer.

Mas com você aqui, tudo está mudando. As pessoas se aproximam e perguntam sobre você, qual o seu nome, quando você chegará e oferecem ajuda, conselhos, fazem votos e sorriem com uma cumplicidade totalmente nova para mim e para o papai.

E foi assim que ontem conheci um pouco mais a Paula e o Ricardo, que moram no 11 andar e são pais da Maria Clara.

Eu e a Paula subimos juntas no elevador e acabamos ficando por quarenta minutos dividindo nossas experiências e nos emocionando com as coincidências, alegrias e sustos que vivemos logo no início das nossas gestações.

No caso da Paula, além da toxo, os imprevistos continuaram durante toda a gravidez, mas, nem por isso, ela deixou de curtir e acreditar que tudo daria certo, como de fato deu: a Maria Clara é uma boneca!

Muito valente mesmo essa menininha que, prematura, ficou 10 dias longe da mãe que estava no CTI devido a complicações advindas de placenta prévia. Mesmo assim mamou até os quatro meses!!!! Incrível!!!!

Em seguida chegou o Ricardo que, como oftalmo, gentilmente se ofereceu para acompanhar o desenvolvimento dos seus olhinhos e para dar dicas e orientações sobre os exames e cuidados que deveremos ter com você em seu primeiro ano de vida por causa do danadinho do protozoário intrometido.

Tributo a Billie Holiday em Ouro PretoEsse encontro me fez relembrar a emoção que tomou conta de mim no dia 19 de setembro do ano passado, ou seja dois dias depois de confirmarmos a gravidez e três dias após o segundo resultado positivo de toxo, quando, em uma noite chuvosa e fria do Festival de Jazz de Ouro Preto Madeleine Peyroux e Mart’Nália reuniram-se com grandes nomes mundiais do jazz no palco montado ao ar livre na frente do Largo do Rosário para um tributo à Billie Holiday.

Fiquei tão encantada com a voz rouca da sambista carioca interpretando divinamente ‘God Bless This Child’ (aqui) que, naquele exato momento, tomada pela emoção e beleza daquela cidade, da chuva que caia, da música brasileira misturada ao jazz, decidi, juntamente com o papai, deixar a racionalidade de lado e optar por deixar a vida seguir seu fluxo natural, nos levando para onde ela bem entendesse, sem pensar em qualquer decisão de cunho puramente racional sobre os riscos e rumos da nossa gravidez.

madaleine e martnália

Sempre que me lembro dessa noite fico emocionada e, agora que tudo está dando certo, sinto-me afortunada e agradecida aos profissionais que nos acompanharam (Dr. Unaí, Dra. Eliana Lustosa, Dra. Jurema e Dra. Marília) e aqueles que continuam nos acompanhando (Dr. Frederico e Dr. Francisco), sem falar na sabuda da sua Dinda que foi quem diagnosticou de primeira o problema.

Além da Paula e do Ricardo, estamos conhecemos um pouco a Flávia e o Henrique do 1501 e a Adri e Gustavo do 1003 andar.

Também estou mais próxima da vovó Marília, da Tia Lina, tia Tereza, da Deinha, da Daniele, da Amanda, Ana Cristina, Talita, do Oscar, da Sílvia e de tanta gente que nem vou continuar listando para não correr o risco de me esquecer de alguém.

Éhhhh rapazinho, a sua chegada trouxe o desafio de sairmos do casulo aconchegante e gostoso que criamos ao longo desses 19 anos de namoro.

Chegou uma nova fase, momento de nos doarmos para você, para o mundo e para as pessoas que nos cercam. E tudo isso é muito bacana!

Um comentário:

  1. Annabel;
    Você escreve linda e intensamente...Seus textos são emocionantes e inspiradores!Ainda não li todos, mas esse em que vc diz q a gravidez faz com que vc compatilhe com outras pessoas uma cumplicidade até então desconhecida, é a mais pura verdade! Mais uma vez me senti como você, pois foi exatamente assim q aconteceu comigo... Com a gravidez os amigos triplicaram! E sabe qual é próximo capítulo dessa história?? É perceber sua vida social cada vez mais intensa, por conta daquela vidinha q você carregou juntinho de si por nove meses e q depois, criancinha linda e esperta, te aproxima de tantas quantas crianças convivam com ela. E junto as famílias, os pais... Maria Clara já deve ter uns cinquenta coleguinhas, vários, inclusive, daqui do prédio! Nos damos muito bem com todos os pais! Além de muitas festinhasde aniversário, organizamos almoços, jantares, reuniões aqui no play do prédio, viagens... Dividimos alegrias, damos risadas das descobertas,trocamos ideias e até angústias...
    Quanto mais cresce, mais esse serzinho nos ensina e mais ficamos enbevecidos pelo divino fato de sermos pais...
    Parabéns!!!
    Beijinhos, e retribua os chutinhos ao André!
    Paula
    *Vou querer sim fazer um blog pra Maria e vou me inspirar muito nos seus textos!!
    **Ah!! E prepare-se pra ser conhecida muitas vezes não mais como Annabel, e sim, como a mãe do André! Rs!!

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