Ontem na TV da sala de ginástica do prédio estavam ensinando como arrumar a cama. Duas vizinhas começaram a falar sobre técnicas de dobrar lençol e, com isso, eu lembrei-me de que pouco tempo depois de casada decidi parar de fazer a cama.
O papai seguiu fazendo nossa cama por um tempo, até que percebeu que só ele a fazia. Quando me indagou o porquê, eu disse que por mim ele não precisaria arrumá-la e que eu gostaria de ter a liberdade de não fazê-lo se eu não estivesse com vontade, ou seja, todos os dias. Desde então nossa cama passou a ficar mais desarrumada do que feita.
Olhando para trás percebo que, rebelde aos 26 anos, decidi não mais fazer a cama. Concluí que já havia esticado lençóis todos os dias de minha vida até então e que, agora, morando na minha própria casa, se eu não quisesse não precisaria mais seguir essa rotina.
A partir daí, nossa cama só era feita no dia da diarista. Eu e seu pai passamos a “pedalar” todas as noites para esticar o lençol.
Atualmente a Sueli a arruma quando quer. O mais engraçado é que ela também não faz a cama todos os dias e nós não ligamos nem um pouco dela continuar desarrumada.

Hoje, enquanto eu caminhava na esteira ouvindo as dicas e ensinamentos das vizinhas, refleti sobre a minha decisão de não mais fazer a cama. Talvez, inconscientemente, essa opção represente mais um passo para a minha libertação de um passado de hierarquia, de tarefas a cumprir e de uma educação à moda holandesa para lá de rígida.

Lembro-me de que a sua tia Heidi embolava o lençol embaixo do edredom para enganar o vovô Louwerens e que, por muito tempo, isso passou despercebido, até que um dia ele descobriu a manobra.
Demorou algum tempo para eu descobrir que, na minha casa, se eu não quisesse, não precisaria mais fazer a cama. Ainda sigo muitas regras que não são minhas, e continuo com a característica de ser uma pessoa bastante organizada. Nossa casa é quase toda impecável, mas a cama por fazer é uma zona de libertação, a minha faixa de gaza, um símbolo que representa e encerra algumas tendências inconscientes e padrões de comportamento impostos.
Não pense que com isso você estará liberado para não fazer sua cama ou para não organizar seu armário e quarto quando já for grande o suficiene para tanto.
Acredito que regras são bem vindas e moldam a nossa personalidade, mas chega um momento em nossas vidas em que devemos olhar para dentro com o intuito de descobrir as nossas próprias regras e valores, assumindo o leme e direção a seguir. E isso não é tão fácil quanto parece. Demanda muita observação, paciência, persistência.
O que te digo é que resultado vale a pena. Tudo o que nos torna mais conscientes de nós mesmos, mais centrados e atentos ao que está acontecendo em nosso interior vale muito a pena, meu filho.
Quero te ver independente, criando e descobrindo suas próprias regras, rejeitando e acatando as que eu colocarei em sua vida por amor, por proteção. Tudo no seu devido tempo.